A Evita – Associação de Apoio a Portadores de Alterações nos Genes Relacionados com Cancro Hereditário organizou no passado dia 5 de Novembro, na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, o BRCA Network – European Congress 2015.
Com a presença de especialistas portugueses e mundiais, o evento promoveu a partilha de conhecimentos sobre a mutação BRCA e lançou as bases com vista à criação de um Consórcio português e internacional para cooperação neste campo.
Para além de especialistas e investigadores da Alemanha, Canadá, Polónia, Portugal e Reino Unido, participaram ainda as principais organizações nacionais da área, casos do Instituto Português de Oncologia – de IPO Lisboa, IPO Porto e IPO Coimbra -, da Associação Portuguesa de Investigação do Cancro, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, da Universidade do Algarve, da Fundação Champalimaud e da Direcção-Geral da Saúde (DGS). Ao debate sobre as soluções para minimizar o impacto da mutação BRCA, juntou-se ainda o sector farmacêutico, casos da AstraZeneca e da Myriad.
Os avanços recentes no tratamento do cancro da mama hereditário nos últimos 20 anos foram apresentados pelo Professor Steven Narod, do Women’s College Research Institute, de Toronto, e um dos principais investigadores mundiais do campo da genética do cancro da mama e ovários. Através da apresentação de estudos realizados em diversos países, o especialista realçou a importância da medicação e cirurgia profilácticas na prevenção destes cancros hereditários, com destaque para o papel dos testes genéticos e da mastectomia.
Alguns aspectos das medidas profilácticas na mutação do BRCA1/2 foi o tema da intervenção do Professor Jacek Gronwald da Pomeranian Medical University, da Polónia. Tal como Narod, o especialista em Genética Oncológica, que tem desenvolvido um intenso trabalho científico em especial na prevenção do cancro da mama e ovários, destacou o grande impacto dos testes genéticos que permitem o diagnóstico precoce do cancro e a consequente redução da mortalidade.
A necessidade de investir num maior conhecimento e sensibilização da população sobre os testes genéticos, o combate à iliteracia genética, a criação de estruturas europeias e a harmonização de critérios foram alguns dos aspectos defendidos pela Professora Rita Schmutzler, ginecologista e coordenadora do Consórcio Alemão para a Hereditariedade do Cancro da Mama e Ovários (GC-HBOC), cujo trabalho se centra na medicina translacional, procurando estabelecer as melhores práticas nos cuidados de saúde a doentes de risco.
Schmutzler apresentou a experiência do Consórcio Alemão, fundado em 1995, a funcionar com 15 centros localizados em várias regiões do país. A estrutura conta com uma base de dados extensa com informação genética de mais de 23 mil famílias e que procura responder ao facto de 25% a 40% dos tumores sólidos na Alemanha estarem associados a factores de risco hereditários. Ao contrário de Steven Narod, a especialista alemã tem dúvidas quanto ao recurso à quimioterapia para todos os casos, não sendo também a favor de testes genéticos generalizados, embora tenha realçado que este pode vir a ser o futuro.
Segundo a Dra. Angela George, do ICR, Royal Marsden Hospital, de Londres, onde realiza investigação genética do cancro do ovário, explorando a componente germinativa, e lidera o Programa Mainstreaming Cancer Genetics (MCG), as actuais guidelines estão muito relacionadas com a familiaridade e há que alterar esta situação, englobando outros factores, como por exemplo a idade. Ao longo do evento, especialistas portugueses realçaram também a necessidade de alterar as guidelines actuais e ficou evidenciado que estas devem ser ajustadas às realidades nacionais.
“Predisposição herdada para o cancro da próstata” e as “Mutações BRCA 1/2 e a suscetibilidades do cancro em Portugal” foram os temas das intervenções do Prof. Manuel Teixeira, Director do Serviço de Genética do Instituto Português de Oncologia do Porto, e da Dra. Fátima Vaz, assistente graduada de Oncologia Médica no centro de Lisboa do Instituto de Oncologia.
O BRCA Network – European Congress terminou com uma mesa redonda dedicada ao networking em Portugal, nomeadamente orientação dos doentes, colaboração científica e cooperação internacional, seguindo-se um jantar com a presença dos especialistas participantes.
A primeiro reunião pós-congresso será anunciada em breve.